Skip to main content
O que é Lupus?

Conversando sobre Lupus

Muitas pacientes têm dúvidas sobre uma doença chamada Lupus e muitas vezes o tempo de uma consulta não é suficiente para o total esclarecimento dos vários aspectos da doença.

Porque esta doença tem um nome em latim? Porque isto aconteceu comigo? Esta doença é contagiosa, vai passar para os meus filhos? Posso engravidar? Existe tratamento? Com a intenção de responder a estas e outras perguntas e também desmistificar a doença, dando informações corretas com base em dados científicos, vamos conversar um pouco.

Lupus: Tratamento, Sintomas, Diagnóstico

Lupus é uma doença crônica, de causa desconhecida, na qual o nosso sistema de defesa (sistema imunológico) sofre alterações importantes e pode afetar a pele, as articulações, as artérias, os rins e vários outros órgãos. Quando o nosso sistema de defesa sofre modificações e ataca nosso organismo, podem aparecer as chamadas doenças autoimunes. O Lúpus é uma delas.

Um pouco de história

Em 1851 o médico francês Pierre Cazenave, observando várias pessoas com lesões avermelhadas no rosto, que cobriam a pele do nariz e das bochechas causando feridinhas, comparou-as a mordidas de um lobo dando então o nome à doença de Lupus Eritematoso (Lupus = lobo, Eritematoso = vermelho).

Em 1895 o médico canadense, William Osler observando que outros órgãos além da pele podiam estar envolvidos na doença (articulações, artérias, rins e outros) adicionou o termo Sistêmico (disseminado pelo corpo) e a doença passou a denominar-se Lupus Eritematoso Sistêmico ou Lupus Eritematoso Disseminado. Existem basicamente dois tipos de Lupus:

  1. Lupus Eritematoso Discoide – afeta apenas a pele, geralmente no rosto e também no couro cabeludo.
  2. Lupus Eritematoso Sistêmico – pode afetar a pele e vários outros órgãos.

O Lupus afeta muito mais as mulheres que homens em uma proporção de 9 para 1. O início da doença é mais comum em mulheres jovens nos seus 20 ou 30 anos de idade.

Crianças também podem ter Lúpus.

O Lúpus não é uma doença contagiosa.

Uma das características do Lupus é o aparecimento de uma vermelhidão na pele quando exposta ao sol chamada de eritema.

Esta sensibilidade da pele ao sol chama-se fotossensibilidade e pode aparecer em qualquer região do corpo exposta ao sol. No rosto, a fotossensibilidade produz um eritema característico sobre o nariz e as bochechas chamado de “asa de borboleta “ por se parecer com ela.

Quais são as principais queixas no Lupus?

O Lupus pode ser chamado de “o grande imitador”, tamanha é a multiplicidade de suas manifestações clinicas que podem ser confundidas com outras doenças, o que pode causar dificuldade diagnóstica no inicio do quadro clinico. Lesões de pele, queda de plaquetas, pericardite, convulsões, mudança de cor dos dedos no frio (Fenomeno de Raynaud) e dores articulares podem facilmente passar por início de outros problemas médicos retardando o diagnóstico.

Muitos médicos não especialistas podem não estar acostumados a ver casos de Lupus e portanto, podem demorar um pouco mais para desconfiar deste diagnóstico. A variedade de sintomas que uma pessoa com Lupus pode apresentar, com base na porcentagem observada em vários estudos, vai na tabela abaixo:

Sintomas clínicos no Lupus

Sintomas %
Artrite 90
Febre 83
Pele 74
Vermelhidão em asa de borboleta 42
 Foto-sensibilidade 30
 Queda de cabelo 27
 Fenômeno de Raynaud 17
 Pequenas feridas no nariz e na boca 12
Outros
Perda de peso 74
Problemas renais 53
Problemas pulmonares 47
Problemas cardíacos 46
Aumento de gânglios 46
Problemas do aparelho digestivo 38
Problemas neurológicos 32
Psicose 17
Convulsão 15

Como Lupus causa lesões no corpo? O que é Fator antinúcleo? O que é vasculite?

No processo de instalação desta doença, o sistema imunológico perde sua regulação normal passando a produzir anticorpos contra componentes do próprio organismo da pessoa. Estes anticorpos são, portanto, chamados de auto-anticorpos e o mais característico deles é o auto-anticorpo dirigido contra o núcleo da célula, sendo denominado anticorpo antinúcleo ou fator antinúcleo (FAN).

Estes auto-anticorpos ligam-se às proteínas contra as quais são dirigidos formando uma estrutura denominada imune-complexo. Os imune-complexos uma vez formados circulam no sangue e podem se depositar em alguns órgãos provocando uma inflamação local.  A deposição destes imune-complexos depende de vários fatores que incluem características locais dos órgãos. Como exemplos temos:

a) os rins no trabalho de filtrar o sangue para produzir a urina, podem reter estas estruturas na membrana de filtração (membrana basal) provocando a nefrite.

b) os vasos sanguíneos podem ter os imune-complexos depositados em suas paredes desenvolvendo nestes locais uma inflamação denominada vasculite. A vasculite do Lupus atinge apenas os pequenos vasos mas existem outras doenças que também se caracterizam por vasculites de médios e grandes vasos.

Existem várias outras doenças autoimunes tais como: artrite reumatoide que se caracteriza por inflamação crônica das articulações; esclerodermia que se caracteriza por uma produção excessiva de colágeno na pele e em vários outros órgãos; polimiosite, uma inflamação dos músculos que causa intensa fraqueza e tireoidite autoimune que leva à queda de função da tireoide. Todas estas doenças podem de alguma forma se assemelhar ao Lupus , pelo menos no início de seus sintomas.

Existem manifestações mais sérias do Lupus?

As manifestações mais temíveis são aquelas que causam comprometimento visceral, ou seja, lesão dos órgãos internos. Podemos citar o problema dos rins denominado glomerulonefrite ou simplesmente nefrite; a inflamação do folheto externo do coração denominada pericardite; convulsões e/ou psicose decorrentes de inflamação no sistema nervoso central; queda de plaquetas denominada trombocitopenia e o aparecimento de uma síndrome denominada “síndrome do anticorpo antifosfolípede” que se caracteriza por fenômenos embólicos repetidos.

As mulheres “lúpicas“ podem engravidar?

Mulher "lúpica" pode engravidar?

Não existem mulheres “lúpicas”, existem apenas mulheres com lupus. É um erro grosseiro e deselegante adjetivar um paciente. Não há uma restrição absoluta à gravidez. De uma forma geral as pacientes podem engravidar sem problemas. O médico solicita apenas que se realize um controle clínico periódico adequado no pré-natal e no pós parto imediato (até 2 semanas após o parto). Quando existe um problema renal mais acentuado solicitamos que a  paciente aguarde até sua melhora  para então engravidar.

Existe prevenção? Existe tratamento? Qual o prognóstico?

Infelizmente não existem cuidados preventivos para evitar o aparecimento do Lupus pois até hoje não sabemos o que promove o seu aparecimento. Para as pessoas que já têm esta doença sempre alertamos para não se expor ao sol sem protetor solar; evitar infecções e se estas aparecerem, procurar logo o médico para tratamento; evitar medicações que sabidamente possam estimular a autoimunidade. (Sempre consultar o médico sobre as medicações).

O tratamento varia de paciente para paciente dependendo de como apareceu o Lupus. Corticoides, cloroquina e medicamentos imunossupressores são utilizados com frequência. Mais recentemente surgiu um medicamento imunobiológico para tratamento do Lupus denominado belimumabe. Na suspeita diagnóstica um reumatologista deve ser sempre procurado.

 As perspectivas são boas. Existem vários estudos internacionais em andamento com tratamentos novos para esta doença. Avanços recentes da biologia molecular trazem novas esperanças no combate ao Lupus. Vamos continuar trabalhando duro!

Continue acompanhando o nosso blog para mais conteúdo correlato.



Share article on

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *